Há cerca de dois séculos, uma nave espacial caiu no interior de Pernambuco, mais precisamente na região do Teixeira. O veículo ficou inviabilizado para voos, mas seus tripulantes – muito parecidos com os seres humanos – conseguiram resistir e inclusive se acasalaram com a população local. A única diferença entre os tais alienígenas e os terráqueos era que os primeiros apenas se comunicavam por meio de versos rimados e metrificados. Foi assim que surgiram os poetas populares, principalmente os repentistas, que emolduraram a identidade do povo nordestino. Essa ‘teoria’ de ficção científica, criada pelo escritor Bráulio Tavares, parece ser a melhor explicação para a efervescência poética do pernambucano, superando e muito qualquer conjectura com embasamento histórico. E o que parece é que, ao longo dos anos, os descendentes desses alienígenas – meio ETs e meio humanos – se espalharam por todo o estado.
Acredito que o poeta Dorge Tabosa seja remanescente desse clã. O sangue de seu avô, Miguel, parecia estar impregnado de substâncias advindas da medula óssea dos ‘alienígenas poetas’. Isso porque chama a atenção a capacidade criativa e poética de Dorge, um homem franzino que nasceu no Sítio Vertentes (área rural de Caruaru). Além de poeta, ele é professor concursado da rede municipal de Caruaru, mas jacta-se por ser comerciante na Feira de Calçados há mais de duas décadas. Essa herança, inclusive, é presente na veia do seu irmão – Val Tabosa –, também poeta, e permeia a sua descendência. Seu filho, Allysson Tabosa, é uma referência na nova geração de poetas. Semelhantemente, as filhas, Letícia e Lívia, também percorrem pelos caminhos da declamação.
Ao longo de sua carreira como poeta, Dorge já gravou dois CDs de poesia, participou do CD ‘Violas e Amigos’ (do saudoso Zé Vicente da Paraíba) e escreveu o livro ‘Poesia Todo Dia’, além de dezenas de cordéis. O mais recente livro da lavra de Tabosa é ‘Meu Universo de Versos’. A obra é composta por poemas populares sobre vários assuntos, indo de temas humorísticos a educacionais, atravessando horizontes internos e externos. Em outras palavras, traduzindo a essência da condição humana por meio de aspectos subjacentes ao cotidiano, bordando beleza no trivial e revelando um olhar diferenciado para as cenas mais corriqueiras.
Como todo bom poeta, Dorge capta a sensibilidade dos contextos e a traduz em versos. Tanto é que o livro conta com as referências de pessoas como o consultor cultural Walmiré Dimeron, o historiador Josué Euzébio Ferreira e o grande cordelista Moreira de Acopiara.
Artigo escrito pelo jornalista Jénerson Alves, publicado na revista Moda & Negócios e no blog Contexto.